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By Ferramentas Blog
Póvoa de Varzim

Cego do Maio


«José Rodrigues Maio, o Cego do Maio, nasceu no dia 8 de Outubro de 1817, na rua dos Ferreiros, desta vila, e na manhã de 13 de Novembro de 1884, pelas 10 horas, «o sol estendeu o seu manto de oiro e, envolvendo aquele espírito de cristal nas suas dobras de luz — arrebatou-o para as esferas onde só vivem espíritos assim nobres, assim grandes, assim heróicos.»

Os povoenses tiveram a generosa ideia de erguer um busto, em bronze, ao benemérito Cego do Maio, no sítio mais central da beira-mar. A câmara deu à Cavarneira o título de «Rua do Cego do Maio» e tem na sala das suas sessões uma magnífica tela. No Clube Naval, existem as medalhas e os diplomas que lhe concederam. E eu, do Cego do Maio, tenho a agulha e o muro com que ele fazia as suas redes. Venero essas relíquias por terem sido dum grande que, no meu entender, subiu acima de homem — foi um carinhoso Santo!

E que outra cousa hei de eu chamar a quem praticou os actos de maior bravura, de maior abnegação e de maior altruísmo, estando sempre pronto e decidido a morrer pelos seus companheiros sem outra recompensa que não fosse as bênçãos da Providência?

Contar as vidas que ele salvou? Como e quando?

De 39 pessoas sei eu que ele arrancou do abismo! Mas ele praticou um acto de tamanha grandeza que para aqui o traslado do «Comércio do Porto», jornal da maior reputação e seriedade, o que de Cego do Maio há mais de 27 anos publicou:

«Nunca receava o perigo, e ainda há poucos dias, quando o grande rolo do mar e a arrebentação na costa da Póvoa expunham a perigo iminente mais de 200 lanchas da pescaria (entrando a do Cego do Maio nesse número), apenas devido à sua coragem e perícia, pôs pé em terra na Cachina, correu para o sítio do salva-vidas, que até então se conservava imóvel, reconhece o grande perigo: nem chores nem lágrimas o detêm, e apenas entra dentro do frágil lenho, encontra companheiros aventurosos, dirigem-se para a barra, transpõem-na, e dirigindo o rumo dos infelizes pescadores, extenuados pela ansiedade, pelo trabalho e pela fome, guia para dentro da barra 60 lanchas, com cerca de 700 tripulantes, e é ele o último que abandona o posto de honra, quando já tinha escurecido!»

O Cego do Maio foi um herói, a sua alma foi a de uma crente, as suas cinzas são as de um carinhoso Santo.

Crianças pequeninas, filhas do amor e da inocência, amigas da nossa irmã Água e queridas do nosso irmão Sol, — quando passardes pela beira da estátua ou das cin­zas do Cego do Maio, reverenciai a memória desse grande coração imaculado e santo, desse generoso e extraordinário benemérito que foi o assombro de toda a gente do seu tempo.

Assim como sai da alavanca a potência, que brote dos vossos tenros corações a veneração e o respeito pelo herói. Aprendei e decorai a epopeia homérica deste homem, que não conheceu a vaidade nem aspirou grandezas. Nasceu humilde, viveu pobre e morreu com toda a serenidade dum justo. Outro que em igualdade de circunstâncias hoje vivesse, seria irmão da ambição e companheiro de ridículas pretensões, pedia aos jornais uma notícia do dia dos seus anos ou de quando fosse tratar de negócios ao Porto, atravessava como um pavão os ruas da vila e trazia debaixo do tacão a sombra do seu semelhante.

O Cego do Maio nunca se deslumbrou pelas mais altas recompensas que lhe concederam, — com a alma santíssima e pura de benemérito, foi simplesmente uma única coisa — uma glória da nossa terra.»


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